Num concelho pródigo em associativismos como o de Almada é, foi fazendo sentido que os professores, num tempo histórico como aquele de que se dá conta nesta publicação, viessem a ter o seu próprio movimento aglutinador que a uma Associação de Profissionais deu origem.
Para melhor se entender esse movimento dou o meu modesto
contributo que, em todo o caso, terá a condição de apresentar o ponto de vista
de um professor que, durante todo o tempo em que surgiu, cresceu e deu origem à
constituição formal da Associação, ocupou o lugar de vereador autárquico na
área da educação e, nessa qualidade, acompanhou, de perto, os primeiros
movimentos orgânicos que a ela conduziram.
O movimento associativo de professores conheceu ciclos de pertinência, vitalidade e de energia própria ao longo das últimas décadas, em particular depois da restauração da democracia. Desses ciclos não se dará conta neste depoimento, embora seja útil registar a quanta utilidade teria uma abordagem aos movimentos associativos em que os professores do concelho e da região se envolveram, quase todos orientados ou para o associativismo sindical onde tiveram e têm particular relevância, ou para a satisfação de necessidades de formação ou de organização da sua atividade profissional e para a gestão do sistema educativo local. O Pólo de Formação Continua dos Professores do concelho de Almada, nascido nos anos 90 e a “Inter-Conselhos Diretivos” da Área Pedagógica12 (Almada/Seixal) nascida nos anos 70, continuada depois pelos Conselhos Executivos e mais tarde pelos Diretores das escolas não agrupadas e agrupamentos de escolas, já então a nível da área pedagógica de Almada, ou a outro nível, a Cooperativa Aldeia Lar, na Sobreda, singular e bem sucedido movimento cooperativo de habitação, serão, entre vários outros, exemplos que atestam a apetência associativa dos educadores e professores e que constituem experiências de referência na região e no País.
A ideia de uma Associação de Professores e de constituição
de uma Casa do Professor em Almada foram sendo aventadas em diferentes períodos
históricos por movimentos associativos embrionários e difusos, mas ambas ganham
energias próprias e convergentes e encontram no almoço convívio anual que a
Câmara Municipal promove a partir dos anos 90 um espaço de manifestação e
visibilidade.
Bem sabendo do interesse, ainda difusamente manifestado por
alguns elementos do corpo docente do concelho, a então Presidente da Câmara
Municipal Maria Emília de Sousa faz um apelo no sentido de constituição de uma
Associação que aglutinasse os profissionais de ensino e adianta, por sua
iniciativa – tive o privilégio de conferir previamente com ela a pertinência
desta proposta e de ter aderido, com entusiasmo, ao seu avanço – a ideia da
atribuição do Challet Ribeiro Teles, que a Autarquia tinha adquirido
recentemente, para o lançamento da Casa do Professor. A proposta foi
apresentada pela primeira vez num desses almoços de homenagem ao professor
apresentado, nas Casas Velhas, na Caparica, sendo então mostrada a fotografia
do imóvel, o que veio a desencadear um movimento de adesão e grande entusiasmo
nos docentes presentes rapidamente extensivo a setores educativos mais vastos.
Em linha com o movimento impulsionador assim surgido, e na
sequência da aproximação entre si de alguns docentes, com um percurso de uma
especial dádiva pessoal à educação, iniciaram-se os primeiros contactos e
tiveram lugar as primeiras reuniões para aferição da ideia e das possibilidades
da sua concretização. Os professores Feliciano Oleiro, Glória Peres, Maria
Carreiras, Maria Orada Emídio, Sebastião Ramos (que sairia a breve trecho),
Judite Salvado constituíram o grupo inicial, reforçado, a partir de 29 de Junho
de 2001, com Ana Maria Branco a partir de Janeiro de 2002 e com Jerónimo de
Matos, a partir de Janeiro de 2003. A estes professores se fica a dever o
trabalho de arranque, de debate de modelos associativos, de delineamento dos
primeiros esboços dos primeiros estatutos (lembrar o primeiro esboço trazido à
discussão pela Professora Judite Salvado, garantido que foi o apoio de familiar
seu) e o traçado do caminho que em breve levaria à constituição formal da
Associação. Honra lhes seja feita por um concelho grato!
Estes professores, alguns já falecidos, deixaram o seu nome escrito em livros e “na pedra” na história da cidade educadora que somos. Merecido, exemplar e educativo, que a principal e uma das mais recentes e modernas escolas básicas do 1º ciclo da freguesia de Almada, tivesse recebido o nome de “Feliciano Oleiro” por proposta feita à Camara por Maria Emília de Sousa e aprovada depois pela comunidade escolar.
Bom será continuarmos este caminho de reconhecimento dos homens e mulheres que
deram décadas de exemplar dedicação à causa da educação na nossa terra, a ela
acrescentando qualidade e mais valias de que hoje Almada se honra. A Câmara
Municipal tem aqui um insubstituível papel no sentido de decidir, em
articulação com a comunidade educativa, a atribuição de nomes de patrono aos
estabelecimentos de ensino que ainda não os têm, honrando o nome de cidadãos
exemplares e merecedores ou fixando outras designações tradicionais reconhecidas
pela comunidade.
Em todo o percurso inicial e em todo o caminho, há uma
figura incontornável, com a sua presença discreta e colaborante nas reuniões de
trabalho e no apoio documental e administrativo ao grupo de professores, que é
a Drª Paula Sousa, então já Diretora do Departamento de Educação e Juventude
que, neste processo, como nos mais diversos e múltiplos dossiers associados ao
crescimento do sistema educativo concelhio, teve relevante papel do ponto de
vista do acompanhamento autárquico. Bem andou a APCA, ao atribuir o honroso
estatuto de sócio honorário a esta Dirigente Municipal, figura de uma
competência profissional, de dedicação pessoal e de uma importância discreta
mas marcante em toda a organização municipal da educação nos últimos 25 anos. A
sua ação profissional e enquanto dirigente foi importante neste lapso de tempo.
Será seguramente fundamental para o próximo futuro.
No exercício da minha função de vereador responsável pela educação municipal em
todo o tempo em que a Drª Paula foi dirigente, muito lhe devo e faço questão de
aqui dar disso conta pública.
Uma palavra de esclarecimento sobre o Challet Ribeiro Teles.
Cedido pela Câmara Municipal à Associação de Professores do Concelho de Almada,
na posse desta alguns anos se manteve, na procura de linhas de financiamento
que lhe permitisse avançar, ela própria, para a sua recuperação, sendo que a
Câmara Municipal avançou com o apoio financeiro para a encomenda do projeto de
recuperação. O objetivo acordado com a Câmara era que a Associação avançasse
com a recuperação do imóvel, com fundos a obter, sendo que da Câmara sempre
poderia contar com apoio financeiro para parte do investimento, como era regra
em todas as obras associativas de monta no concelho. A impossibilidade de
obtenção do apoio externo desejado levou a que viesse a ser estabelecido um
acordo entre Associação e Autarquia que se traduziu no retorno do imóvel à
posse da Autarquia, para que esta, logo que financeiramente fosse possível, se
pudesse encarregar de proceder ao restauro geral do edifício. Este assunto
merece uma referência e um compromisso concreto por parte da Presidente da
Câmara Maria Emília de Sousa, na sua intervenção pública aquando da cerimónia
de lançamento da 1ª pedra da obra das instalações da antiga Cooperativa
Almadense para sede da USALMA, Universidade Sénior de Almada. Esse compromisso
municipal, amplamente presenciado pela comunidade escolar presente, onde se
contavam alguns dos atuais membros da Direção da APCA e vários dos membros da atual
administração municipal, traduzia-se na decisão da Câmara avançar para
recuperação do Challet e posterior entrega definitiva aos professores, em caso
de vir a ser obtido financiamento comunitário para a obra da USALMA,
financiamento que, à data, não era garantido ainda. Tal cenário veio a
concretizar-se: A obra da USALMA obteve o apoio de fundos comunitários e a
Autarquia avançou para a recuperação do edifício Ribeiro Teles, na Cova da
Piedade, para a APCA ali poder abrir uma “primeira porta” da Casa do Professor.
A Casa do Professor foi uma das primeiras ideias – há quem considere ter sido uma ideia alavanca – da Associação de Professores. Mas também a construção de um Lar Residência cedo se colocou na ordem do dia, tendo a Câmara Municipal procedido à cedência de um terreno, na Charneca da Caparica, com vista a essa edificação.
A Associação de Professores nasce para trabalhar. Para os
seus associados. Mas também para a cidade solidária e educadora que Almada é.
Desde a primeira hora, a APCA está centrada na cidade e nas
necessidades dos seus cidadãos.
Num concelho em que os professores desempenham um tão
relevante papel na construção de um concelho desenvolvido, onde a educação e a
cultura assumem lugar de destaque, foram os Professores , no seio da sua
recentíssima Associação, que assumiram esse desígnio de dar a Almada uma
Universidade Sénior, que, pelo seu
formato e conceito e dimensão, rapidamente se veio a situar nos lugares cimeiros das U.S.
em Portugal. Recusando a ideia de um “centro de dia do saber”, antes promovendo
uma ação intencional de “cruzamento de gerações”, em que cada uma dá o melhor
de si para que todas lucrem
Sendo, como desde a primeira hora quis ser, uma instituição
orientada para a educação ao longo da vida, a USALMA nasce também como
instrumento de partilha de saberes, de promoção de atividades recreativas e
desportivas, de promoção de relações de convivência intergeracional, um grande
centro de dinamização de Almada Velha, uma instituição que emparceira
ativamente com coletividades e centros de cultura, na dinamização cultural da
cidade e do concelho, onde é já uma presença incontornável.
Desde a 1ª hora, a APCA afirma-se, então, como uma
instituição dinamizadora da cultura almadense, integrando e reforçando, com os saberes
e competências que lhe reconhece, a rede cultural de Almada e da Região.
Palestras e conferências, dinamização do livro e da leitura,
promoção da multiculturalidade através da promoção de aulas de Português para
falantes de outras línguas, estudo e divulgação da literatura portuguesa, dos
seus autores e territórios, apoio à criação literária viagens e visitas de
estudo, ações de divulgação científica, integram os riquíssimos planos de
atividades que, todos os anos, a APCA delineia, promove e cumpre.
Em todos esses planos de atividades há uma pedra de toque, o
profundo enraizamento na comunidade que deseja servir com as reconhecidas
competências de que é portadora, construindo parcerias com várias instituições
locais, nos domínios da saúde para todos, apoio a cidadãos com deficiência,
literacia digital, etc., …
A APCA tem futuro. Pelos associados que tem. Pelo seu enorme
potencial de crescimento.
E o concelho de Almada tem um melhor futuro com o trabalho de uma Associação assim.
António Matos
(Texto publicado no livro "Memória Viva", uma Associação bem sonhada, da autoria da Professora Maria Carreiras Seabra, lançado em 22 de Outubro de 2021, em Almada Velha.)
Devia ter sido entregue na altura certa e a Associação devia "mexer-se" para reaver o edifício, provavelmente muitos acham que está tudo bem...assim seja.
ResponderEliminarE que tal contar a história toda? Ou continuamos a viver de demagogia?
ResponderEliminarOra bem,cada um puxa a brasa à sua sardinha
EliminarCaro anónimo, esta é a história toda e real, contada por quem a protagonizou. Preto no branco.
ResponderEliminarNão é não e você sabe bem que não. Deixemo-nos de demagogia.
EliminarPorque razão tem de ser os Almadenses com os seus impostos muitos com ordenados baixos a ter de pagar para os professores muitos com reformas três vezes mais que o ordenado mínimo nacional.
ResponderEliminarQuando necessário podem pagar em centros de dia ou lares como outros cidadãos que tanto trabalharam, os professores não podem ser os pervilegiados da sociedade muito menos de uma autarquia lhes dar com dinheiros públicos de toda uma cidade.